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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM...
1913 - por Moreira Pinto e Almeida Moraes (1)

Ao editar em livro os números do recenseamento realizado em Santos em 1913, a Prefeitura Municipal de Santos incluiu nos anexos um texto relativo à situação do município. A obra é o Recenseamento da Cidade e Município de Santos em 31 de dezembro de 1913, e foi publicada em 1914, fazendo parte do acervo do historiador santista Waldir Rueda. A grafia foi atualizada no texto principal, nesta transcrição:


Área junto à fonte do Itororó, no sopé do Monte Serrat, na década de 1920
Imagem enviada a Novo Milênio por Ary O. Céllio, de Santos/SP

Do "Diccionario Geographico" de Moreira Pinto, extrahimos as linhas que damos adiante a respeito das condições geographicas e historicas de Santos. Foram ellas corrigidas, e augmentadas, de accôrdo com as modificações por que passou o Municipio depois da publicação daquella obra.

Em seguida, reeditamos uma pequena monographia escripta pelo saudoso paulista, sr. Coronel Francisco Corrêa de Almeida Moraes, que foi, em diversas legislaturas, Presidente da Municipalidade; e referentes aos primeiros annos da historia santista.


Bonde com tração animal, na Ponta da Praia, nos primeiros anos do século XX
Foto: coleção do pesquisador Allen Morrison, de New York/EUA

Breve notícia geográfica e histórica sobre Santos

SANTOS - Do Dicionário Geográfico:

Cidade e Município do Estado de S. Paulo, sede da comarca de seu nome.

Está situada na costa do oceano Atlântico, 300 milhas ao S.O. do Rio de Janeiro, na latitude Sul de 23º56' e longitude de 3º10' a Oeste do Rio de Janeiro, ou 2 hs. 33 m. 19 s a Oeste de Greenwich, ou 2 hs. 34 m. 52,9 s. a Leste de Washington.

Topograficamente, a cidade mesma está situada em uma ilha, cerca de três milhas afastada da costa do mar e na margem direita de uma corrente com marés, que rodeia a ilha, e desemboca no mar cerca de quatro milhas abaixo da cidade. Essa corrente, influenciada pelas marés, forma o porto que é a saída principal para as mercadorias do Estado de S. Paulo e Estados adjacentes. A ilha na qual a cidade está situada é principalmente uma grande e baixa planície, de irregular aspecto, com cerca de três e meia milhas de largo, de Norte a Sul e cerca de sete, de comprido, de Este a Oeste.

Tem uma área de quinze a vinte milhas quadradas e é cortada transversalmente em uma direção, entre NE. e SO., por uma cadeia de colinas de gnaisse e de granito, muito quebradas no perfil e contornos, variando em altura de 200 a 500 pés. Os montes são abruptos e na vizinhança da cidade levantam-se quase a pique. A parte baixa da ilha é quase uma planície nivelada. O solo é geralmente areento, o que, devido à falta de inclinação, faz com que em parte se mostre coberto de pântanos. Estes, por dois montes, são geralmente saturados de água doce, enquanto ao longo das correntes sujeitas às marés, são inundados por água salgada.

Esta planície tem uma elevação média de cerca de 9 pés acima da maré alta, salvo uma pequena porção na vizinhança de S. Vicente, que se eleva quinze a vinte pés acima do preamar. A vegetação nos pântanos e também nos montes é uma massa confusa de plantas semi-tropicais. As árvores, geralmente, não são grandes, mas são entrelaçadas e cobertas de cipós que, com espessas moitas de vegetação mais baixa, impedem, em grande parte, a luz do sol de atingir o solo. Não há na vizinhança madeiras de construção.

Todo o lado meridional da ilha está exposto diretamente ao oceano ou à baía de Santos. Esta baía exterior, ao Sul da cidade, está cercada ou abrigada pelas cadeias de montes a Leste e a Oeste, que variam em altura de 200 a 900 pés; a entrada do porto propriamente dito está exposta aos ventos do Sudoeste. A corrente sujeita a marés, em sua barra ou entrada, estreita-se de um lado pela ilha e de outro pela terra firme, deixando um canal de cerca de 300 metros de largura. Depois de passar esse canal estreito, a largura varia de 400 a 1.000 metros.

Em frente à cidade, ao Norte, o porto tem cerca de 700 metros de largo. A Oeste da ilha há um braço de mar ou estreito que é uma tortuosa corrente, sujeita a marés, e que liga o porto com a baía exterior ou às águas do Atlântico. No ponto em que este braço, ou estreita corrente, deixa o porto, acima da cidade, há um espraiamento formando larga bacia, com algumas milhas quadradas de extensão, que recolhe as águas da maré durante a preamar, e faz com que na baixamar um grande volume de água passe pelo porto em frente à cidade, em caminho para o oceano, e mantenha pela sua ação a limpeza do canal da barra.


Praça José Bonifácio, em 1904
Foto: José Marques Pereira

A praia, por muitas milhas abaixo e acima de Santos, tem os mesmos caracteres físicos, dos quais é mais saliente uma cadeia de montanhas, paralela à costa na distância de 10 ou 15 milhas, e que varia em altura de dois a três mil pés. Entre essa cadeia e o oceano, o solo é geralmente plano, com exceção de uns poucos de cabeços ou cadeias de colinas mais baixas, e retalhado por correntes fluviais sujeitas à maré, alimentadas por águas que descem das montanhas vizinhas e banham o sopé dessas colinas.

A cidade, que é bastante grande, é dividida em duas partes, uma urbana e outra suburbana. A primeira é puramente comercial, nela ficam a Alfândega, a Recebedoria de Rendas, a Praça do Comércio, as Docas, importantes estabelecimentos bancários, muitos comissários de café e milhares de casas comerciais de diferentes gêneros de negócio.

As ruas nessa parte da cidade são em sua maioria calçadas a paralelepípedos, algumas a asfalto, iluminadas a gás e luz elétrica e percorridas a todo instante por bondes elétricos, automóveis de passageiros e de carga, e outros inúmeros veículos que conduzem sacas de café e mais gêneros da Estação da Estrada de Ferro para as casas dos comissários e destas para a Alfândega e para as Docas, que as embarcam nos vapores que atracam ao cais.


Em primeiro plano, na Rua de Santo Antonio (depois denominada Rua do Comércio), o prédio do Lloyd Real Belga, onde também funcionou o Fórum, na esquina da Rua XV de Novembro. Ao fundo, já na praça Rui Barbosa (então Largo do Rosário), o prédio do Correio
Foto: cartão postal nº 315 da Union Postale Universelle - Estados Unidos do Brasil
Imagem cedida a Novo Milênio pelo historiador Waldir Rueda

As ruas principais, sob o ponto de vista comercial, são a Quinze de Novembro e Santo Antonio, onde se acham umas cem casas comerciais, a Associação Comercial, o London Bank, o River Plate Bank, o Banco de Comércio e Indústria de S. Paulo, o Brasilianisch Banck, o Banco Francês do Brasil, o Banco Espanhol del Rio de La Plata, o Banco Ítalo-Belga, o Banco Transatlântico Alemão, o Banco Agrícola de S. Paulo etc.

Na primeira, na casa que tem o número 29 (antigo), foi onde nasceu José Bonifácio, o velho. Nela acha-se colocada uma placa de mármore, por iniciativa de Silva Jardim, com a seguinte inscrição: "Esta é a casa em que nasceu e morreu José Bonifácio de Andrada e Silva, patriarca da Independência do Brasil. A cidade de Santos, reconhecida, mandou aqui colocar esta lápide no dia 13 de junho de 1888, aniversário de seu nascimento." Dos lados estão a data de 11 de abril de 1888 e a seguinte inscrição: "Um grupo de abolicionistas". Na parte superior existe um livro com o dístico: "A Lei".

Ainda nessa parte da cidade ficam: a praça dos Andradas, com a Santa Casa de Misericórdia, o Hospital dos Tuberculosos, a Cadeia, o Teatro Guarani; o jardim da Praça dos Andradas; a Praça Barão do Rio Branco; a Praça da República, com a Alfândega, a estátua de Braz Cubas, fundador da cidade, e a igreja do Convento do Carmo; o jardim da Praça Mauá, antigo Largo da Coroação, todo arborizado, e o jardim da Praça José Bonifácio. Na Praça Mauá houve outrora uma Casa de Misericórdia.

O antigo jardim da Praça Mauá
Foto: Acervo José Carlos Silvares/Santos Ontem

A parte suburbana da cidade é mais bonita, menos comercial, sem o grande movimento de carroças, e percorrida por diversas linhas de bondes elétricos, com casas modernas e de bonito aspecto, com ruas largas e bem extensas, tais como a de S. Francisco, Rosário, Amador Bueno, Braz Cubas, Senador Feijó, General Câmara e as Avenidas Conselheiro Nébias e Ana Costa, todas calçadas a paralelepípedos e asfalto, as duas últimas, marginadas de canteiros arborizados, com passeios de granito, de pedra plástica ou cimentados.

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